sexta-feira, 31 de julho de 2009

No armário da princesa dondonhoca

dormia também um belo agressivo e empoeirado coturno preto.
Já quase sem esperanças o coitado, de ver a luz do dia.
Mas, quem poderia adivinhar? Eis que um telefonema e um frio na barriga seguido de uma vontade louca de arriscar qualquer coisa, tomou conta daquele corpinho desabitado e como num impulso a moça saca de seu armário o tal coturno...
Surpresa! A cada casinha que o cadarço percorria o tal corpo como num ritual ia se transmutando, transfigurando até seu momento ápice. O laço derradeiro do coturno.
Está ela lá, diante do espelho, não menos dondonhoca mas agressiva.
Ar de “comigo ninguém pode”.
Diria “poderosa a dondonhoca!”
Em câmera lenta agora joga seus cabelos vermelhos no ar e fixa seu olhar num ponto.
Lança seu corpo imponente na direção certeira. Caminha. Câmera lenta. Vento no rosto. Intenções laminosas.
Ninguém sabe, mas a dondonhoca neste momento chora todinha por dentro e bebe suas próprias lágrimas como vinho.
Seus pés patinam por dentro do poderoso boot e a câmera lenta é seu artifício, tentativa burra de pausar o filme.
Caminha certeira e bêbada habitada por seu coturno sem rota ou GPS.
Ela desconhece seu alvo.
O Seguir firme é medo e vida.

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