domingo, 25 de maio de 2008

Alta Noite

As noites eram longas, escorriam sobre a pele.
Como na madrugada da grande catástrofe, nos abraçávamos com força e cerrávamos os olhos a espera da calmaria. As vezes o vento assobiava numa altura tal que era impossível nos escutarmos.
As noites eram longas e cortavam a carne para o pacto de sangue.
Relógios parados, guerreávamos sem sucumbir ao cansaço e ao peso da espada.
Amávamo-nos, relógios parados, mãos na escuridão.
Só sei que um dia, enquanto ele abria as grandes janelas do casarão, o sol foi pintando os meus ossos e músculos, e observei meu rosto reaparecer no reflexo do espelho.
Cantarolamos juntos uma música antiga, colhemos flores e de mãos dadas atravessamos grandes avenidas movimentadíssimas, caminhamos...
Por fim, cabelos soltos sentamos aos pés de nós e dormimos ao sol calmo, exaustos e tranquilos como quem volta pra casa depois de uma longa viagem.

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