quinta-feira, 22 de maio de 2008

Partituras esquecidas

A menina cresceu e foi desvendando a vida através de mundos no guardanapo e ilusões ao telefone.
As sábados, debaixo de chuvas de poema, enquanto observava a lua inteira, gorda, consolava amores inventados. Lindos! E inventavam cada uma...
Voltas e voltas no quarteirão, taças de vinho, letras de músicas, tragos, decotes, pactos de amizade.
Ele falava em casamento e ela coca-cola.
Ele mudando o mundo e compondo letras ruins de rock, ela rindo.
Ele sempre falante, buscando na gramática novas combinações, criando outras vogais, ainda mais belas que as que ela conhecia. Enquanto isso bebiam cerveja no boteco de um bairro de classe média que tem até hoje como charme a nostalgia de suas histórias e nada mais. Estas que lá inventávam.
"Raiva te não ter trazido o passado roubado na algibeira" (impossível tais lembranças sem citar Fernando Pessoa)
Antes a distância entre Minas e Belém do Pará que com urgência e precisão os unia a fazer juras como se houvessem facas no ar....
Difícil é o reinventar, é se reinventar, nas falas sem sentido, nas voltas e voltas sem parada, nas taças vazias, nas partituras esquecidas, nos mais lindos bilhetes jogados fora por falta de espaço nos novos lares.
Difícil é amanhecer.

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